Depois de atuar em parceria ao Circuito Fora do Eixo, de março a novembro de 2011, o Movimento SOMA vem anunciar publicamente o seu desligamento do mesmo. Os motivos estão explicados na carta de desligamento, enviada por Neo One Eon, fundador do SOMA, aos integrantes do Circuito.
Abaixo a carta na íntegra:
"Olá a todos,
Venho através desta informar o meu desligamento e o  de Grazi Calazans do Circuito Fora do Eixo. Esperamos a semana inteira  por uma explicação daqueles que nos retiraram de todas as listas do FDE,  como esta não aconteceu, segue abaixo texto com os motivos do  desligamento.
Tudo começou quando não pudemos mais participar da Casa Fora do Eixo  Porto Alegre, pois houve a mudança de modelo casa para modelo  apartamento, e morar num apartamento com as crianças e todo o turbilhão  que um centro nervoso como este acarreta, tornou esta possibilidade  inviável para nós. Estávamos dentro desde o início, inclusive nós  botamos muita pilha para isto acontecer, mas mudou-se o plano inicial e  tivemos que mudar também o nosso planejamento.
Como já tínhamos entregado o nosso apartamento e o emprego no  Senac-RS, que a Grazi tinha, em função da CAFE POA, pensamos, e agora, o  que fazer? Daí, no aereporto de São Paulo esperando a conexão para  Fortaleza (para irmos para a Feira Da Música) surgiu a idéia de  circular, o que originou o Projeto Família a Bordo, em apenas algumas  horas, porque somos assim, agimos de maneira rápida pra resolver nossos  problemas, e foi desta forma que atuamos com o Movimento SOMA em Porto  Alegre, sempre tentando uma solução rápida para as adversidades, e não  foi à toa que conseguimos tanta coisa em tão pouco tempo.
Assim que chegamos em Fortaleza comunicamos o Paulo Zé pessoalmente  sobre a nossa situação e marcamos um skype com Atílio Alencar, Cláudia  Schulz e Moysés Lopes, que eram as pessoas que estavam correndo atrás  mais intensamente para um local para a CAFE POA. Feito o skype,  comunicamos a nossa decisão (legítima) de não participarmos mais da CAFE  e que tínhamos bolado um projeto de circulação, onde levaríamos mais ou  menos as funções e frentes que exerceríamos na casa e o nome FDE  conosco, o que naquela conversa foi aceito por todos...
Daí começaram a acontecer coisas estranhas: havíamos falado também  com o Felipe Altenfelder (CAFE-SP) e ele tinha curtido a idéia do  projeto, mas depois dele ter falado com o Atílio, ele curiosamente mudou  de opinião, o que também aconteceu com outros agentes do circuito,  tanto que um coletivo quase não nos recebeu, pois para eles foi contada  outra estória, que a CAFE POA tinha virado apartamento porque nós não  participaríamos mais dela, o que é no mínimo uma inverdade, pra não  falar outra coisa, e outro coletivo que ia nos receber, que estava tudo  certo, mudou de ideia em cima da hora.
Seguimos o nosso projeto e quando estávamos em Campinas, depois de  38 cidades percorridas pela América Latina, o Felipe Altenfelder nos  ligou dizendo que tínhamos que parar o projeto, que agora estávamos na  regional dele (como se ele fosse o dono dela) e que se não fôssemos  encontrar com ele e o Pablo em São Carlos, poderíamos ser desaderidos,  sendo que havia sido marcada uma conversa no dia anterior na mesma  cidade com eles e eles não compareceram. Informamos que não tínhamos  como nos deslocar, eu conversei com o Pablo Capilé pelo telefone, ele me  falou que seguíssimos então com o projeto e que em Janeiro  conversaríamos, sugerindo inclusive que não fôssemos ao Congresso  Nacional. Importante mencionar também que antes deste telefonama, rolou  uma série de e-mails nos bastidores, onde nós fomos constantemente  agredidos verbalmente, principalmente por Tatiana Oliveira, da FEL.
No domingo (20/11) fomos mandar um relato para as listas sobre como  está sendo nossa passagem pelo estado de São Paulo e nossa participação  no Festival Contato, e pra nossa surpresa descobrimos que fomos  retirados de todas as listas do Circuito Fora do Eixo, numa atitude  totalmente covarde, já que no telefone foi nos dito que conversaríamos  depois, e no entanto nos retiram silenciosamente da Rede, sem direito à  votação ou qualquer coisa que o valha, e sem nenhum motivo plausível.  Ficamos o dia inteiro esperando uma explicação, e o pior veio à noite:  tanto o Felipe Altenfelder quanto o Pablo Capilé foram até São Carlos e  não disseram uma palavra só sobre o ocorrido, agiram como se nada  tivesse acontecido, apenas nos cumprimentaram. Se iam voltar no domingo,  pq fizeram esta tempestade num copo d'água, era só pra medir força e  nos fazer obedecer uma 'ordem superior'?
Daí ficam várias questões no ar: nos excluíram pq, pq não  consultamos alguns que se acham donos da rede para fazer o nosso  projeto, nos excluíram pq usamos da nossa autonomia pra resolver uma  questão crucial de necessidade (já que estávamos sem apê e sem emprego),  nos excluíram pq dissemos 'não' a um encontro inviável com os "chefes",  nos excluíram pq sempre falamos o que pensamos, nos excluíram pq  questionamos, será que este é o grande problema? Nos retiraram pq não  concordamos com a política de exclusão exercida pelos gestores da  Regional Sul pós congresso Regional, onde praticamente ninguém fica  sabendo do que está acontecendo e apenas uns poucos são beneficiados,  enquanto a maioria só tem demandas de receber e receber e receber e tem  que dizer amém sempre às "ordens superiores", sob pena de perseguição e  desadesão, como foi no nosso caso?
Realmente é difícil acreditar que uma idéia tão bacana quanto esta  do FDE esteja se tornando via poucos agentes algo que vai totalmente  contra a liberdade de expressão e autonomia, que algo que a priori  deveria agir diferentemente do Sistema esteja se tornando exatamente  como ele; é triste obvervar alguns discursos fundamentalistas, como se  estivéssemos participando de alguma seita religiosa ou partido político.  Pra que viabilizar Marchas da Liberdade e ter um sistema ditatorial  internamente, pra que se falar tanto em horizontalidade se esta de fato  não existe, se em vários momentos foi jogado na nossa cara que não  respeitamos as instâncias e coisas do tipo, pra que se falar tanto em  Política e esquecer do que realmente deveria mover o cicuito, que é a  Arte e a Cultura? Política é importante sim, mas uma rede que trabalha a  Cadeia Produtiva da Música, Literatura etc não pode se resumir somente a  relações políticas, pois assim a Arte fica em segundo plano. Pq a  necessidade de se "evangelizar" ou catequisar e contabilizar inúmeros  pontos fora do eixo mundo afora, se na hora de "dividir o bolo", apenas  uns poucos são contemplados? Pra que se falar tanto em Economia  Solidária se esta acontece somente no campo teórico, pois nesta não  existe patrão nem empregados, pois todos os integrantes são ao mesmo  tempo trabalhadores e donos?
Então é isto pessoal, lamentamos muito este ato covarde que foi  feito contra nós, nós que sempre fomos entusiastas da Rede, nós que  demos o nosso sangue para realizar várias atividades e levar o nome do  Circuito, nós que ajudamos a recolocar Porto Alegre no mapa e  participamos intensamente do fortalecimento de uma Regional que  praticamente não existia dentro da Rede, nós que o tempo todo no Projeto  Família a Bordo temos divulgado a Rede e explando sobre o seu  funcionamento. Sinceramente fica difícil entender uma coisa dessas, e  também é muita falta de consideração conosco, e se por acaso pensaram  que iam calar nossa voz, estavam redondamente enganados...
E por último queremos deixar claro que a nossa saída não significa  que somos contra o Circuito, de forma alguma. Ficamos na torcida de que  as coisas sejam cada vez mais claras e honestas, pois tem muita gente  boa e talentosa ligada à Rede e com vontade de fomentar a Arte e a  Cultura em âmbito local, regional e nacional, e estas também merecem  respeito. Deixo aqui também um abraço carinhoso para os companheiros de  FEL, foi um prazer imenso compartilhar idéias e trocar experiências com  vcs, e podem ter certeza que continuarei declamando seus poemas país  afora, pois o nosso comprometimento com a Arte e a Cultura está acima de  qualquer chancela.
Sem mais no momento, nos retiramos de forma digna e com o respeito  que merecemos. Deixamos aqui o nosso agradecimento a TODOS que nos  receberam nesta tour (apenas 12 cidades dentro da rede, no total de 42  cidades até agora, pra quem diz que usamos a rede), agradecemos as  amizades que foram construídas e fortalecidas. Sei que talvez venham vir  com discursos bonitos com palavras impactantes como lastro,  organicidade e tal, mas na nossa concepção as palavras mais importantes  dentro duma rede deveriam ser amizade, confiança e honestidade, e as  pessoas (e o que acontece com elas) são fundamentais dentro do processo,  ao contrário do discurso de alguns agentes de que o que importa é a  Rede, e não as pessoas que a compõem.
A Família a bordo segue em frente e continua firme e forte, mais do que nunca!  
Neo."