26 de outubro de 2010

Viva o MorroStock!

O Movimento SOMA esteve presente no último final de semana do maior festival independente do país: o MorroStock, em Sapiranga-RS. Três dias de muita música, natureza, encontros e shows inusitados e surpreendentes. Confira o relato completo.

Texto e fotos por Neo AuditivA

Sexta-feira, 22/10/2010

Levitan e os Tripulantes
A primeira coisa que chama atenção no MorroStock é o lugar, não é à toa que a lembrança ou referência ao Woodstock é inevitável. Um grande campo à beira da montanha, com um açude, um campo de futebol e cavalos ao longe, realmente um lugar do caralho, como diria o poeta. E barracas e pessoas de todas as tribos espalhadas por todos os cantos na espera do bom e velho rock and roll. Foi neste clima que chegamos ao local na sexta-feira, pra prestigiar e fazer parte da história deste que é um dos maiores festivais de rock do país, senão o maior.



Los Arcaides

Mas infelizmente nem tudo eram flores no início do segundo e último final de semana do festival. Devido a uma falta de energia elétrica na região, a noite de sexta começou com mais de duas horas de atraso, com a primeira atração subindo ao palco por volta das 23:30h. Mas logo a tensão inicial foi substituída pelo humor irreverente de Levitan e os Tripulantes, dando a descontração que todos precisavam naquele momento, como que lembrando que o que realmente importava era isto, a propagação da arte e que o rock superaria tudo, fosse o que fosse. Em seguida veio a Los Arcaides, um belo power trio de Canoas e do coletivo Tomada Rock, que também estava presente no local. Destilaram o seu enérgico classic rock, agitando a galera, provocando as primeiras "batidas de cabeça". A terceira atração foi a Dingo Bells, que teve uma relação mais íntima com o público, tendo suas músicas cantadas em coro em alguns momentos, também um show bastante interessante.

Mitch & Mitch
Daí veio o ponto alto da noite, uma seqüência matadora, iniciando com a fenomenal banda polonesa Mitch & Mitch, que desencadeou depois várias discussões filosóficas sobre as diferenças entre os músicos nacionais e internacionais e os respectivos cenários musicais. Fizeram um show impecável, levando o público ao delírio, com destaque para a presença de palco do carismático vocalista/baixista Mitch e das incríveis mudanças de andamento dentro das músicas, algo que deixou muitos de boca aberta, inclusive este que vos escreve. A banda ainda promoveu o primeiro momento curioso do final de semana: na última música do show, eles perguntaram se não tinha ninguém na platéia que gostaria de confrontar um dos tecladistas do grupo. Após um breve momento de suspense, sobe ao palco um garoto que mandou super bem no outro teclado, arrancando gritos da galera e provocando uma certa surpresa até nos membros da banda, foi demais! Depois me dei conta que o tal garoto era tecladista da Canastra Suja, que também iria se apresentar no festival.

Variantes
Depois desta bela apresentação, a responsabilidade de tocar a bola pra frente agora era da banda catarinense Variantes, outro ótimo power trio. Os caras não se intimidaram, fazendo um belo show, com uma puta energia rocker, destacando-se a voz de Gustavo Faccio e o excelente guitarrista Willian, que além de grande músico tinha uma performance singular, simplesmente contagiante. Eles conseguiram manter a energia lá em cima, com muita competência e atitude, tendo também suas músicas cantadas pela galera. E quando se pensava que nada se igualaria ao show gringo desta última parte do festival, a banda paranaense Confraria da Costa foi mais uma ótima surpresa! Com seu som originalíssimo, conhecido como som pirata, com toques de música cigana e outros ritmos excêntricos, proporcionaram ao público uma experiência única, como se todos fizessem parte deste grande navio pirata onde a banda era a tripulação. Foi a apoteose da noite, poucas vezes vi um público tão empolgado e uníssono com a performance e sonoridade da banda, realmente sensacional!

Confraria da Costa
Procura-se Quem Fez Isso veio sem seguida, com suas fantasias cobrindo o rosto, seus capacetes iluminados e uma complexidade musical ímpar, deixando muita gente perplexa e atenta. Apesar de ser algo até um pouco difícil de se absorver num primeiro momento, o público não arredou o pé da lona, mesmo com a chuva torrencial que caía naquela hora, uma verdadeira chuva de balde, como dizem. Depois veio a banda Apanhador Só, que mexeu novamente com o público, que não se cansava com o avançar da madrugada. A penúltima banda foram os cariocas da El Efecto, que fizeram a galera bater cabeça com um som que misturava guitarras pesadas, cavaquinho, trompete e músicas muito bem trabalhadas. Infelizmente a platéia não estava mais em grande número, pois já eram aproximadamente seis e meia da manhã e o dia já começava a amanhecer. Mas aqueles guerreiros que ainda assistiam os shows presenciaram uma bela apresentação, assim como a última atração da noite, a banda The Dancing Demons, que destilou o seu Afroxé Metal (como eles mesmo intitularam o som da banda) com muita competência, dando um ótimo fim à primeira noite desta última parte do festival, que teve chuva, ótimos shows e um show do público presente, além de reencontros de amigos, corpos se beijando e rolando na lama e muito, mas muito rock and roll!

Sábado, 23/10/2010

Assim que chegamos no Bar do Morro encontramos o pessoal do Macondo Coletivo, que também foram prestigiar o evento e fazer a cobertura colaborativa do festival. Definitivamente tinha mais público no sábado, estava realmente lotado. Além da galera que estava acampada, foi muita gente conferir o evento somente nesta noite, que era o dia mais rocker e que reunia alguns nomes já consagrados de uma vez só. E contrariando as más línguas que (ainda) dizem que rock é coisa de marginal, que o rock é perigoso etc, mais uma vez não houve confusão nem algo do tipo, mesmo com o local lotado e a segurança redobrada.

Bandinha Di Dá Dó
Quem abriu a noite foi a Bandinha Di Dá Dó, que estava programada a tocar no dia anterior, mas que por causa do atraso devido à falta de luz, foi realocada para o sábado. E mais uma vez eles surpreenderam com sua clown music, fazendo a galera dançar freneticamente, inclusive fazendo trenzinho gigante, com uma pessoa atrás da outra circulando pela platéia, como se estivessem em pleno baile de carnaval! Um completo sucesso, que mostra porque o número de fãs da banda não pára de crescer. Em seguida veio a Ecosofia, de Sapiranga, com o bom e velho rock and roll e um vocalista que lembrava os grandes nomes da década de setenta - fizeram sua apresentação com bastante competência, levantando a galera e fazendo o pessoal cantar.

Vera Loca
Ainda no show da Ecosofia dava pra sentir que no próximo show a galera ia explodir. Alguns que estavam bem na frente do palco ficavam acenando e gritando em direção ao camarim, que estava montando ao lado do palco; é porque a terceira atração da noite seria a Vera Loca, primeiro dos grandes nomes a se apresentarem no sábado. E não deu outra, o público foi ao delírio, tudo perfeito, mas aí veio novamente o inevitável: mais uma vez faltou energia elétrica na região e o MorroStock teve de ser interrompido, de novo. O fato levantou algumas discussões, se de repente pra próxima edição não seria interessante buscar um apoio maior da prefeitura ou qualquer outra instituição que pudesse viabilizar a obtenção de um gerador potente, pois com um gerador o mundo pode acabar, mas o show não. Anunciaram no palco que demoraria mais ou menos uma hora e meia para voltar a luz, porém alguns minutos depois tudo se normalizou, para o delírio do público, que vibrou como se fosse a marcação de um gol do seu time; e o time pra que todos torciam naquele momento era o MorroStock e parece que os deuses do rock resolveram dar uma forcinha...

Efervescentes
Outro detalhe interessante é que assim que faltou luz, o baterista Luigi puxou Rock and Roll do Led, pra delírio da galera, e em seguida a We will rock you, do Queen, desta vez com o vocalista Fabrício Beck pegando um megafone pra cantar junto com o público, que neste momento já estava cantando com a batida da bateria. Em seguida ele puxou o hino do Rio Grande do Sul, fazendo o local vir abaixo, realmente um momento marcante e emocionante do festival.  Com a energia elétrica restabelecida, a Vera Loca voltou com toda força ao palco, mesmo com o desfalque de um membro que teve que deixar o local devido a um compromisso. Mas eles não se abalaram e fizeram um ótimo show, agitando a galera de uma forma única.

Identidade
A quarta atração da noite foi a Efervescentes, que manteve o ritmo empolgante do evento e agitou a galera com o seu rock and roll vibrante e bem executado. Um belo show, digno de um festival como este, que empolgava a todos que estavam participando de mais esta história do rock em solo gaúcho. E em falando de história, a banda seguinte era nada mais nada menos que a Tenente Cascavel, banda que junta integrantes das duas bandas mais cultuadas do rock gaúcho dos anos 80, a TNT e Os Cascavelletes. Tinha tudo pra ser uma chuva de clássicos, mas surpreendentemente os caras anunciaram que fariam uma apresentação de apenas cinco músicas e que o público iria escolher as canções. Mas de qualquer forma o local veio abaixo com este inusitado show relâmpago, que abriu com Menstruada e teve Não Sei, Morte por Tesão e Ana Banana no repertório, com Cachorro Louco encerrando o set. 

Locomotores
Na seqüência veio a Identidade, fazendo um show avassalador, mesmo com alguns problemas técnicos durante a apresentação, com destaque para o carismático vocalista Evandro Bitt. O veterano Mutuca foi a sétima atração da noite, entrando visivelmente emocionado no palco, dizendo que o festival estava lindo, dentre outras coisas. O show foi empolgante e o público participou ativamente, mais uma vez dando um show à parte. Em seguida veio o também lendário Jimi Joe, acompanhado de Os Prisioneiros do Rock. Também uma bela apresentação, um rock bem executado e mais pesado e sombrio que os anteriores, bem interessante. Gustavo Telles e Os Escolhidos deu seqüência ao festival, com um som mais puxado para o violão, tocando canções de amor, como ele mesmo disse assim que subiu ao palco.

Pata de Elefante
Muita coisa boa já tinha rolado, mas ainda estava reservado um gran finale para a noite, que começou com o show da banda Locomotores. Showzaço, com ótimas performances de seus integrantes e com o público cantando e agitando horrores, realmente um ponto alto da noite. Em uma das últimas canções do show, Gustavo Telles não resistiu e invadiu o palco e dançou junto com a banda uma dança característica que eles estão fazendo naquela hora, outro momento marcante do festival. Em seguida veio um dos shows mais esperados da noite, da banda Pata de Elefante. Outro showzão, uns dançaram o show inteiro, outros pararam pra assistir as excelentes execuções musicais de seus integrantes, mas com certeza todos ficaram atentos e satisfeitos com mais uma ótima apresentação destes caras que sequer precisam cantar pra empolgar o público, muito bom mesmo!

Rinoceronte
Mais uma vez ficou bem tarde e o público deu aquela dispersada. Mas quem ficou conferiu dois dos melhores shows do festival. Mesmo não tendo tanta bagagem quanto alguns daqueles que passaram pelo palco nesta noite, estas duas bandas fizeram shows excelentes e não deixaram nada devendo a ninguém. E curiosamente as duas últimas atrações da noite fazem parte de coletivos, fato que foi lembrado antes dos shows. A primeira a subir no palco foi a Rinoceronte, banda de Santa Maria e do Coletivo Macondo. Fizeram um show impecável, agitando o público com o seu som pesado e bem trabalhado, com muita gente batendo cabeça, apesar do cansaço e de quase estar amanhecendo, excelente apresentação!

Canastra Suja
Já de manhã e pra finalizar a noite, subiu ao palco a Canastra Suja, banda de Pelotas e que faz parte do Coletivo Satolep. A noite não poderia acabar melhor, os garotos fizeram um show de tirar o chapéu, com um rock que por muitas vezes flertava com o blues e canções excelentes! Assim como a Rinoceronte, a banda possui composições muito bem arranjadas, com destaque para o tecladista, aquele mesmo que subiu ao palco no show da Mitch & Mitch no dia anterior. Foi realmente uma pena que bandas tão boas e singulares tenham tocado tão tarde e para um público mais reduzido, mas o que posso dizer é que pra quem estava lá, valeu a pena esperar.

Domingo, 24/10/2010

No último dia do festival o sol finalmente deu as caras. E veio forte e em boa hora, pois as barracas e as coisas que estavam dentro delas, que foram encharcadas pela chuva dos dias anteriores, precisavam secar. O clima no domingo era bem diferente, parece que só estava presente no festival o pessoal que estava acampado lá há alguns dias. O cansaço estava estampado em vários rostos, muitos estavam virados desde sexta. E foi neste clima de ressaca que começou o derradeiro dia do Morrostock 2010.

Eletric Mind
Eram mais ou menos 14:30h quando subiu ao palco a Eletric Mind, a primeira atração do domingo. A banda, formada só por mulheres, agitou o público que lentamente chegava na lona com seu rock alternativo a la Pixies e cantado em inglês. Era curioso ver a galera sentada na frente do palco, algo impensado na sexta e no sábado, o que refletia o cansaço e tinha a ver com o fato do show ser de dia e o último do dia anterior também ter sido de dia, apenas algumas horas antes. No final do show a produção pediu pra elas continuarem, pois eles não estavam encontrando a banda que viria em seguida. Elas tocaram mais algumas, agora com uma recepção mais calorosa do público presente, parece que a galera estava acordando aos poucos...

A banda Maçã de Pedra veio na seqüência no lugar da banda que havia sumido. Um integrante até brincou dizendo que eles não estavam encontrando a outra banda porque alguns integrantes estavam tomando banho no açude e outros tinham ido fazer trilha e ainda não tinham voltado. Eles abriram o show com uma música instrumental e na segunda canção entra a vocalista Caren Suzana com o a sua excelente voz, que chamou a atenção nas músicas Rock and Roll, do Led e Piece of my heart, da Janis, que vieram em seguida. Pronto, foi o bastante pra acordar de vez a galera, em poucos minutos a lona estava completamente tomada mais uma vez. Depois a Quarto Studio apareceu e fez o segundo show de uma banda de Sapiranga no festival, com um classic rock bem executado.

Maça de Pedra
A quarta atração foi a Moisheleh, que fizeram um ótimo show, com belas canções. Eram músicas boas para se ouvir meio que relaxando, portanto o público curtiu o show sentado mais uma vez. Mas estavam todos ali prestando atenção, só não tinham mais a disposição dos dias anteriores. Depois veio o Astronauta Pinguim, que simplesmente executou o que alguns chamaram de o mantra do festival: ele tocou apenas uma música o show inteiro, que teve o refrão "Constelation, constelation, tommy like that, tommy like that", (ou algo do tipo, quem esteve lá sabe do que se trata) cantado pela galera massivamente, até quando não era hora. Vendo a reação da galera diante da música, ele chegou a dizer "Pô, vocês tão muito chapados mesmo", pra delírio geral. No fim o pessoal da produção acabou participando também do show e até cachorro invadiu o palco, foi uma loucura só.

Antes do Jupiter Maçã, que encerraria o festival, foi chamado no palco o MauroLauroPaulo, vocalista da Bandinha Di Dá Dó. Mas ele não apareceu lá, o Homem Banda surgiu no meio da galera perto do bar. Em segundos acumulou gente em volta dele e ele foi guiando o pessoal pra longe do palco, em direção ao camping. Quando resolveu parar, o Homem Banda anunciou que começaria sua apresentação. E ele não tem este nome à toa, realmente é uma banda completa numa pessoa só, fica até difícil descrever, ele possui vários dispositivos acoplados ao corpo, onde cada movimento corresponde a um som: mexeu uma perna tocou um prato, mexeu a outra soou o bumbo, e por aí vai, simplesmente sensacional! E quando ele ia começar, todos ouviram um coro ao longe "vem até aqui, vem até aqui", era um grupo que estava mais afastado ainda, pedindo pra ele ir até lá. Pedido aceito e enfim começou a apresentação, que levou o público às gargalhadas, uma verdadeira festa.

Quarto Studio
Infelizmente (particularmente com muito pesar mesmo) não pudemos conferir a apresentação do Jupiter Maçã nem participar do Jantar de Encerramento, pois o último ônibus para Porto Alegre saía de Sapiranga às 19:30h e tivemos que nos retirar ainda durante o número do Homem Banda. Mas temos certeza que tudo correu bem e que um festival como este não poderia acabar de outra forma, com um gostinho de quero mais e já deixando muita saudade. Importante salientar também a presença da Rádio Putz Grila, que transmitiu o evento e botou um som nos intervalos pra galera nos três dias, do pessoal das barraquinhas de artesanato e da Hocus Pocus, que também estava com um stand lá, inclusive vendendo material das bandas que estavam se apresentando. Além disso a Ipanema FM também esteve presente cobrindo o evento, entrevistando alguns artistas. E por fim não temos como deixar de agradecer ao Paulo Zé, que é o cara que idealizou isto tudo e nos possibilitou vivenciar momentos tão intensos onde a celebração do rock e da arte foi o maior intuito e finalidade. Como foi dito, SWU, Rock in Rio, MY ASS, festival de rock de verdade é o MorroStock!

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