29 de abril de 2011

Festival Pira Rural leva rock e cultura pras montanhas

Por Neo e Paulo Zé




Pode parecer fácil fazer um festival mas não é. O Pira Rural 2011, festival cravado no meio do vale de montanhas de Ibarama (RS), teve sua segunda edição neste final de semana que passou, dias 22, 23 e 24 de abril. Estivemos lá eu e o Neo, do Movimento SOMA, acompanhados da mascotinha Layla.

o palco decorado rusticamente
O que vimos foi um festival berçário, um festival que está nascendo em uma região de baixa oferta cultural, que portanto necessita de investimento e de um melhor aperfeiçoamento organizacional. O Pira, como o nome já diz, é uma 'pira', uma viagem sensorial que gira em torno de todo o festival. Com uma programação composta por grupos pouco conhecidos do grande público e também com algumas bandas só de cover ou que abusaram do cover (o que na minha opinião desqualifica o caráter de festival autoral que poderia funcionar como uma mostra, gerando uma maior visibilidade e circulação das bandas participantes por outros festivais Brasil afora), o Pira Rural tem seu charme, é um festival caseiro onde o tempo parece que está andando bem mais devagar do que realmente está.

a fogueira que aqueceu a galera
Chegamos lá na sexta por volta das 16:30 horas e já havia pessoas que estavam lá desde a noite anterior. O dia estava nublado e a chuva já despencava com força, como não poderia deixar de ser - se tem festival ao ar livre sempre chove, é a lei. Já não estávamos nos importando com chuva, afinal estávamos instalados na van que ficou bem ao lado do rio, portanto se ele não enchesse tava tudo certo. Começamos então a provar o que o festival tinha a nos oferecer: cerveja de latão era uma das únicas coisas industrializadas à venda, a água da torneira era potável, o vinho feito lá, o absinto também, assim como a graspa de cana e a cachaça. As refeições eram caseiras: arroz, feijão, galinha, polenta, salada de repolho e tomate, batata doce, milho, pinhão e tudo feito com muito carinho e tava bem bom mesmo. O palco rústico montado no fundo do terreno, com rodas de carroça de boi e morangas enfeitando a boca de cena e com vários bois passeando pelo campo na parte de trás, dava todo o astral. A fogueira, que começou às 20 horas e ainda estava lá quando saímos segunda de manhã, resistiu o festival inteiro apesar da chuva descomunal que caiu na sexta.

rolando um show no palco
Os shows começaram às 21 horas, como o previsto, a primeira banda a se apresentar foi a Xispa Divina, de Sobradinho, banda local que fez parte da organização; o show animou geral e o som tinha uma proposta bem bacana, psicodélica rock. A Quarto Ácido entrou depois, com atraso, na hora que terminou o show da Xispa acredito que a banda nem havia chegado ao local. Os Cucas Tortas, de Caxias do Sul, foram a banda seguinte e acredito que uma das melhores do festival todo, apresentando um trabalho autoral legal e músicas interessantes. Gostei do show, e se alguma banda pode nascer e colher frutos depois deste festival, os Cucas Tortas são uma delas. Outra banda com potencial de circular é a Agranel (Sobradinho), muito massa, fizeram um show muito bom que foi interrompido por uma seqüência de falta de luz, que fez o lugar virar um breu. Foi aí que veio a hora de rodar o violão com as luzes de lanternas, cada um tocava um som e rodava a viola, até que quando um cara tocou "Jesus Voltará do Sangue Sujo", de fato a luz voltou e o festival prosseguiu. A estas alturas o Neo, que tinha ido colocar a Layla pra dormir na van horas atrás, acordou e vai seguir o relato. Toca ai Neo!

os vizinhos do festival

Neo

a galera curtindo o show
Beleza Zé! Então, depois de muito trago pra espantar o frio e confraternizar com a galera, após a janta fui colocar a Layla pra dormir e acabei desmaiando também na carismática Vanzinha Di Dá Dó, do Zé. Quando acordei, para o meu susto, já estava na penúltima banda, mas ainda bem que o Zé tava ligado. Gostei do pouco que vi da Agranel, também fiquei com a sensação que a banda tem potencial pra circular em outros eventos e festivais. Depois, finalizando a primeira noite, veio a banda Práticos Delirantes, de Sobradinho, tocando o seu rock and roll debaixo de muita chuva, mas com um público atento e sedento por rock sob a tenda azul montada em frente ao Palco Ricas Abóboras. O que impressionou também nesta primeira noite  foi a estrutura, os equipamentos e a luz (salvo algumas pequenas quedas) terem resisitido à chuva descomunal que caiu, ponto para o Pira! Acabado o show, voltaram todos para o bar onde era servido a comida e ficaram até sabe-se lá que horas numa ótima roda de violão, regado a muito papo e trago pra terminar de fazer a cabeça e espantar o frio, que a esta altura estava violento. Fui dormir por volta das 5:30h e ainda ficou muita gente por lá. 

a roda de viola
Depois de um breve cochilo, acordei por volta das 8h com o Zé e o Geison, grande figura de Esteio, conversando no fundo da van, ainda virados e devidamente 'pirados'. Adentrei no papo e minutos depois o Zé deu o seu primeiro mergulho (primeiro de muitos) no rio, num frio de rachar, contrariando todas as estatísticas, rsrs. Foi divertido ver a cena, o Zé estava realmente no clima e se sentindo em casa, realmente era difícil não se sentir assim, acho que todos que vivenciaram o Pira ficaram meio que em outra dimensão. Depois os últimos 'sobreviventes' da primeira noite foram dormir, enquanto não parava de chegar gente pra prestigiar o segundo dia do festival.


 

a cachoeira revigorante
Fui dormir já era dia, acordei com um recital de piano, Matheus Costa (Arroio do Tigre) tocava enquanto todos sentavam e curtiam as músicas de gênios da música clássica, foi um dos grandes momentos do festival. Apesar de na prática ele ter tocado só “covers”, ele falou sobre composição e tocou uma música sua, que foi aplaudida mais ardorosamente que os 'hits', provando que o público ali estava interessado realmente em trabalho autoral. Houve também uma tentativa de conversa com o público e isso foi uma atitude bem legal dele. Outra banda que tocou músicas autorais que gostaria de destacar foram Os Instantâneos, que tem um som próprio bem bacana, mas que mostrou só 3 músicas autorais no festival, uma pena! Lamento também a falta da Superfusa, que eu queria muito ver.


Neo

Fiquei pra lá e pra cá até o Zé acordar, pois tava muito pilhado de ir na cachoeira, e na boa, não tinha como visitar aquele lugar sem ir na cachoeira. Na verdade havia duas cachoeiras, uma bem próxima ao acampamento e outra mais isolada e bem maior, que teríamos que fazer uma trilha pra chegar nela. E com a chuva torrencial do dia anterior, ambas estavam com o volume d'água mais que quadriplicado, o que assustou um pouco quem montou suas barracas bem próximo da primeira. Mas mesmo assim, fomos lá eu, o Zé e a Layla, pois o céu estava ameaçando abrir e não havia mais sinal de chuva pela frente. E valeu cada passada e cada escorregão nas pedras durante a trilha, pois a cachoeira foi redentora, curou a ressaca e o cansaço, agora estávamos prontos pra outra!

o SOMA reunido
a radio camarim
Assim que voltamos da cachoeira encontramos outro grande somador chegando no local, o Edu Saleh, que viera de São Pedro do Sul (pra lá de Santa Maria, onde estava com a família da namorada), pra prestigiar o festival e se apresentar com o projeto Paralelo Bipolar, do qual eu e ele fazemos parte. Fomos para perto da fogueira e provamos da cachacinha caseira que ele trouxera, aguardando o almoço sair. Daí pra frente rolou muito papo e troca de idéias, performances inusitadas de alguns 'pirados' no local e a noite veio chegando, trazendo um frio bem pior do que a noite passada. A Rádio Camarim tocava um som louco atrás do outro, esquentando a galera para a segunda noite de apresentações. Infelizmente algumas bandas não compareceram e não pegava nenhum celular no local, salvo raríssimas exceções e em raríssimos momentos; pra se ter uma idéia, o pessoal da organização teve que ir a Sobradinho pra tentar contactar tais bandas. Confusões à parte, acabou que o Paralelo Bipolar abriu a noite, o que pra nós foi interessante, pois tocamos antes da janta, e isto foi ótimo já que os dois cantam praticamente o tempo todo, e cantar de barriga cheia não é lá uma situação muito confortante, rs. E foi assim, mandamos nosso recado, com músicas próprias e algumas versões inusitadas do classic rock, regado a vinho da casa, gentilmente oferecido pela produção do evento - eles estavam dando pra cada banda que se apresentava uma garrafa artesanal de um vinho produzido por um deles, bacana mesmo! Do palco eu percebia cada vez mais gente se aglomerando em volta da fogueira, sinal que o frio realmente apertava. Mas o pessoal estava animado, batia palmas e tentava interagir com o show, que teve também a participação especialíssima do grande Zé Docinho na bateria durante as últimas canções, num total clima de jam session, sem ensaio nenhum. E o pessoal curtiu, era bem o clima da festa...

mais shows no palco
boutique da cana
A Boutique da Cana, uma estrutura bem legal que eles montaram perto da Radio Camarim, estava a mil por hora, vendendo absinto, graspa de mel e vinho caseiros a módicos 3 reais e cana caseira a 2 reais. O local estava bem mais cheio do que o primeiro dia, dando um clima bem legal ao festival, pois apesar do frio tava todo mundo bastante animado. Abstenho-me de relatar os shows covers, pelos mesmos motivos que o Zé acrescenta ao final do texto, apenas destacando a banda de Passo Fundo, a Espora Elétrica, que poderia muito bem compor ou apresentar um ótimo trabalho autoral, pela qualidade dos músicos e o carisma da banda. Outro destaque vai para a banda Os Instântaneos, de Butiá, uma das únicas bandas que apresentou trabalho autoral no sábado (mesmo que em pouca quantidade), juntamente com a Paralelo Bipolar, de Porto Alegre. E mais uma vez a noite se alongou bastante e mais uma vez foi difícil dormir no frio intenso que rolava, o que me ocasionou apenas mais um cochilo, acordando novamente com os guerreiros highlanders Zé e Geison incrivelmente ainda de pé. E desta vez o Zé se superou, só foi dormir no dia seguinte, não tirou nenhum cochilo, cozinhou um grão de bico na fogueira e ainda improvisou uma oficina de malabares no solzão que deu no domingo, o que fez muita gente que tava indo embora ficar com vontade de ficar.

Layla, Gugu e Lelê
No domingo, último dia do Festival Pira Rural 2011, o sol deu as caras lindamente, mas mesmo assim teve que ser chamado um trator pra retirar alguns veículos, que não conseguiam sair do local devido à lama ocasionada pela forte chuva de sexta e alguns pingos no sábado; foi uma cena curiosa pra muita gente, as crianças adoraram. Falando em crianças, havia só duas, a Layla e o Gugu (ambos de 7 anos), que deram um show à parte, correndo de lá pra cá, curtindo os shows e abusando da boa vontade do Lelê, o gatinho que a família do Gugu levou pro festival.

banquinha do SOMA

Também no domingo montamos a banquinha do Movimento SOMA com vários produtos artísticos do circuito, e que pra nossa agradável surpresa fez um sucesso estrondoso, provocando a curiosidade das pessoas e altas trocas de idéias sobre toda esta movimentação que estamos fazendo, com destaque para o papo com membros da banda Pindorália e do Movimento Cultural Manifestasol, de Caxias do Sul. Conversamos com eles sobre a importância estratégica de Caxias do Sul no estado e eles se mostraram interessados em saber como as coisas estão funcionando no circuito, um papo bem promissor e que pode ser aprofundado em breve. Batemos um bom papo também com o pessoal do Cucas Tortas, também de Caxias do Sul, como o Zé falou, uma banda com bom potencial de circular por aí. Infelizmente e por motivos ainda não esclarecidos, não houve as oficinas que estavam programadas, e se não fosse a oficina improvisada de malabares do Zé, o último dia do festival ficaria praticamente em branco no que diz respeito a atividades artísticas.

a galera da excursão de Porto Alegre
Então é isso pessoal, o Festival Pira Rural foi bem legal, rolou uma confraternização bacana entre a galera, com possibilidade de surgimento de novas amizades e novas trocas de idéias com futuro promissor, onde destaco também o pessoal da excursão que foi organizada pela Sabrina e que levou gente de Porto Alegre e região, uma rapaziada gente boa. Logicamente algumas coisas precisam ser aprimoradas, se a intenção da organização for sempre seguir em frente e evoluir junto com o passar do tempo. O que vi foi um pessoal com muita vontade que a coisa dê certo, agora é analisar o que deu certo e o que pode melhorar pra que o Festival Pira Rural 2012 seja ainda melhor do que esta edição que tivemos a felicidade de participar.  

o pessoal que ficou até o final



Ps: Me permito não falar sobre as bandas de cover, a de Passo Fundo era muito boa, vale dizer que fizeram um show legal com uma boa vibração, mas cover pra mim não vale. Estamos vivendo um processo gigante por uma cultura mais forte, muitas coisas estão sendo discutidas em caráter nacional como direitos autorais entre outras, portanto a importância de se fazer música autoral. Perguntei o porque das bandas covers, me disseram sobre a dificuldade de se atrair público, porém o festival contou com muito pouca gente se eram esperadas 300 pessoas e vieram quiçá 100. isto significa que cover não tá com nada. O que temos é que desenvolver a idéia do festival berçário e trazer bandas autorais de todo estado e de repente até de fora dele. Isto tem que ser debatido, pois do contrário será só mais um festival caseiro destes que podem até ter mais de uma edição por ano e ser feito no quintal da casa de cada um.

Paulo Zé e Neo

10 comentários:

  1. Bah, muito massa esse relato, remeteu-me aos dias. Digam uma coisa, vcs estavam com um caderninho no bolso? rsrss :-)

    Parabéns ai pro pessoal do Xispa Divina e colaboradores do Festival Pira Rural, doaram o sangue para que tudo funcionasse e nada faltasse.

    To sentindo uma integração maior entre os festivais, parece que a intenção é parecida em diferentes regiões do estado e do país. Tudo em simetria.

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  2. Olá!
    Valeu guris, um ótimo relato de tudo de bom que aconteceu no Festival Pira e que venha a edição de 2012.
    Abraço e bj para florzinha Layla!

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  3. A banda cinzeiro e vinho tinto não encerro a primeira noite, e sim foi o primeiro show eletrico do sabado..
    ;)

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Timm....
    A banda que encerrou a primeira noite foi a Práticos Delirantes!!
    Guita(PRÁTICOS)
    4ºFoto (rolando um show no palco)
    Valeu Abração
    Q venha o próximo

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  6. Belo relato! O pira foi lindo mesmo, valeu por me citarem! hehehe!

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  7. Valeu pessoal, desculpem a confusão com o nome das bandas, obrigado por sinalizarem!

    E que venha o próximo Pira!

    Abraços,
    Neo.

    ps: não estávamos com caderninho de bolso, incrivelmente lembramos das coisas, só num me pergunte como, hahaha

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  8. Fala pessoal, já tinha corrigido aqui há alguns dias e por acaso fui ler a matéria novamente agora e vi que o texto antigo tava de volta, só não me perguntem como isso aconteceu, rsrs

    De qq forma, tá corrigido novamente o nome da banda, valeu por sinalizarem, desculpem a confusão blz

    Abraços,
    Neo.

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  9. Só para esclarecer. O pessoal da 4º Ácido estava lá desde a quinta feira, foi passado para a banda que o tempo era flexível não havendo necessidade de nos apressar. Gostaria de agradecer ao pessoal da Xispa e organização por terem convidado novamente a banda, nos sentimos a vontade e sempre marcaremos presença nesse lugar mágico. Abraço.

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  10. bááááá, chegou a dar um FLASH BACK bem como os que o Timothy Leary profetizava!!!! Nós aqui da Espora Elétrica( http://www.facebook.com/bandaesporaeletrica ) estamos Eternamente gratos a galera aí da Xispa Divina por tudo mesmo! Essa confraternização suprema q nos foi proporcionada e a galera do manifestaSOMA q cantou a pedra e falou na real, o que hoje a gente aprendeu a dar valor. A música própria é o que se tem q dar valor e nesse pensamento, estamos aí com nossos sons..prontos pra pira no proximo pira rural. abração aos amigos!!!

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